Josérnagers Ep 01
Era uma noite silenciosa e sombria. Acima da estratosfera, onde o tempo parecia suspenso e o frio do espaço tocava até o âmago da existência, uma silhueta metálica jazia esquecida na superfície irregular da Lua. Um contêiner — antigo, corroído pelo tempo e poeira lunar — repousava parcialmente soterrado entre rochas e crateras. Estava adormecido, ou melhor... selado.
Lá longe, quebrando o silêncio do cosmos, uma nave pousava delicadamente sobre a superfície cinzenta. O pouso levantou uma nuvem de poeira fina que dançava em gravidade reduzida, como uma cortina espectral.
— "Controle terrestre, localizamos a fonte da anomalia energética. Pouso efetuado com sucesso." — anunciou o Comandante Vitor, sua voz abafada pelo capacete, enquanto observava a leitura dos sensores. Ao lado dele, a engenheira espacial Dra. Helena apertava os olhos através da viseira do traje.
— "Vitor... aquilo ali..." — apontou ela com o dedo trêmulo. — "Não parece ser um artefato natural. Recebo leituras de energia instável... e crescente."
Ambos caminharam lentamente em direção ao estranho objeto. Seus passos eram suaves, mas produziam ecos metálicos dentro dos capacetes. O som grave parecia reverberar no vazio cósmico, criando uma trilha sonora fantasmagórica naquele cenário desolado.
O contêiner parecia mais uma arca funerária. O metal era preto e violeta, adornado com runas que brilhavam em um tom lilás tênue. Havia uma única trava circular ao centro, enferrujada e resistente. O comandante estendeu a mão, hesitante. Seus dedos, cobertos pela luva grossa do traje, giraram a trava com esforço. Um estalo ecoou.
CLANK.
O som metálico cortou o silêncio lunar como uma lâmina. A tampa se abriu lentamente, rangendo de maneira sinistra. Uma densa fumaça púrpura começou a se esgueirar para fora, como se tivesse consciência. Ela serpenteava pelo interior da câmara, contornando os dois astronautas como uma cobra ancestral que acabara de acordar.
De dentro da névoa, surgiu uma figura.
Primeiro, apenas uma sombra... depois, sua silhueta alta e imponente se desenhou contra o brilho da poeira lunar, que refletia a tênue luz da Terra. Vestia uma túnica longa e ondulante de tom laranja queimado com detalhes azul-escuros nas bordas e mangas. A vestimenta tremulava como se tivesse vontade própria, mesmo na ausência de vento.
Sua coroa pontiaguda reluzia com uma luz sinistra. Os cabelos negros flutuavam ao redor de sua cabeça, como serpentes encantadas em gravidade zero. Com um gesto das mãos — longas, de unhas negras e afiadas — ela materializou um cajado do nada: de madeira retorcida e negra, com uma caveira ornamentada no topo, que parecia sorrir para os vivos com escárnio.
Com olhos flamejantes de ira ancestral, ela ergueu os braços e bradou com uma voz poderosa, ecoando pelas colinas lunares como um trovão profano:
— "POR MIL ANOS EU ESTIVE AQUI APRISIONADA... MAS AGORA... EU ESTOU LIVRE! E VOU ME VINGAR... DA TERRA!"
Ela bateu o cajado contra o solo lunar.
BOOOM.
Uma cratera se formou ao redor, e faíscas roxas explodiram, riscando a poeira em todas as direções. Seu corpo foi tomado por uma aura negra e púrpura que girava como um furacão. A bruxa riu — uma gargalhada arrepiante que fazia tremer até a alma. Em um piscar de olhos, seu corpo se tornou um com a escuridão e ela partiu rumo à Terra como um cometa maligno.
Enquanto o terror se aproximava, a Terra girava tranquila. Era uma manhã clara e ensolarada em Parnaíba, uma cidade tropical do nordeste brasileiro. A entrada da cidade era marcada por uma placa colorida e desbotada: "Bem-vindo a Parnaíba - Terra do Delta". A brisa era leve, os pássaros cantavam e o vai-e-vem de ônibus na rodoviária era constante.
Ali perto, quase colado à rodoviária, um grande prédio de dois quarteirões se destacava: o Colégio SESI, uma das maiores instituições de ensino da cidade. Estudantes com mochilas cruzavam os portões em direção às salas, enquanto motoristas de vans e ônibus escolares estacionavam com pressa.
Seguindo pela pista central da cidade, passava-se por lojas, casas, farmácias e oficinas. O centro era um fervilhar de vida. E ali, coladinho a um prédio de cinco andares, havia uma lanchonete charmosa e muito movimentada, com uma faixa vermelha sobre a porta:
“Escondidinho dos Salgados”.
Lá dentro, o cheirinho de pastel, coxinha e café passado tomava conta do ambiente.
— "Salgado com recheio especial, temos também pudim, chocolate e café pra viagem!" — dizia o jovem atendente Rayan, com uma gravata preta que trazia bordado seu nome. Alto, robusto, de olhos verdes, cabelo curto e pele clara, ele andava pra lá e pra cá com dois relógios: um dourado no pulso direito e um smartwatch no esquerdo.
No caixa, um outro funcionário terminava de registrar uma compra. Seu nome era Tiago Evangelista. Magro, estatura média, pele branca, sardas discretas no rosto e cabelo castanho médio. Simpático, embora sempre com um ar atento e observador.
— "Isso aqui dá R$ 10,50, senhor. Vai ser em espécie ou cartão?" — perguntou ele a um rapaz com camisa verde-escura com o logotipo do SESI no peito.
— "Espécie," — respondeu o cliente, pegando a carteira.
Tiago pegou o dinheiro, conferiu e guardou com precisão. Enquanto colocava os salgados numa sacola branca e amarrava com cuidado, o homem perguntou:
— "Vi agora que vocês têm café expresso pra viagem. Será que dá pra incluir um copo aí? Eu pago, claro."
— "Um momento." — respondeu Evangelista. Ele se virou, pegou um copo de uma prateleira perto do caixa, ao lado de doces como algodão doce, paçoca, brigadeiros e balas de coco. Encheu com o café expresso e colocou na sacola junto aos salgados.
— "Aqui está."
O homem sorriu.
— "Quanto ficou o café?"
Tiago sorriu de volta.
— "Hoje é por conta da casa, senhor Mateus. Você é cliente fiel, tá aqui todo santo dia desde que abrimos. Boa sorte nas aulas."
Mateus sorriu, genuinamente tocado.
— "Pra vocês também. Valeu mesmo!"
Ele saiu pela porta com um aceno. Tiago suspirou, espreguiçando-se. Pegou uma garrafa de água com gás e ligou a pequena TV no canto do caixa. Estava assistindo a uma coletânea de dribles e gols do Neymar, temporada 2012-2013.
— "Ah... bons tempos." — comentou sozinho, bebendo.
Mas, de repente, a tela piscou. O vídeo parou. Um ruído estridente preencheu a loja, e a imagem foi substituída por uma tela vermelha com letras negras:
ALERTA GLOBAL — SELO DE LARA REPULSA QUEBRADO. ANOMALIA DETECTADA.
Tiago arregalou os olhos. Sua expressão mudou drasticamente. Desligou a TV com força, empurrou a garrafa de lado e se levantou bruscamente. Gritou:
— "Rayan! Cuida do caixa! Tenho um assunto de vida ou morte pra resolver!"
Rayan olhou surpreso enquanto atendia outro cliente.
— "O quê!? Tiago, pera aí!"
Mas Tiago já havia atravessado a porta e corria pela calçada. Entrou logo ao lado, num prédio discreto com uma pequena placa que dizia:
“Laboratório de Pesquisas Thompson”.
Assim que passou pela porta, algo incrível aconteceu.
Seu corpo começou a brilhar, emitindo sons mecânicos. Sua pele se abriu em placas e fios. Seus olhos se tornaram luzes azuis intensas. Ele era um androide. Não um humano qualquer, mas uma inteligência artificial avançada, disfarçada por anos.
Ele caminhou rapidamente por corredores metálicos, passando por portas de acesso restrito, como a da enfermaria e do hangar de contenção. Chegou à sala central. Lá havia um monitor futurista e uma cápsula cilíndrica coberta por um pano branco.
Ele retirou o pano com um puxão.
Dentro da cápsula, flutuava a cabeça de um homem, em animação suspensa. Seus olhos estavam fechados. Havia cabos conectados à base do crânio e um botão amarelo no painel.
Tiago puxou um dos cabos, conectou ao monitor e apertou o botão.
A cabeça emitiu um som baixo, e lentamente, seus olhos começaram a se abrir.
Tiago olhou com seriedade.
— "Diretor Magnus... ela voltou. A Bruxa Lara Repulsa despertou. Precisamos ativar o protocolo Sentinela."
A cabeça flutuante piscou os olhos com dificuldade, respirou fundo — se é que podia — e disse com voz grave:
— "Então... chegou a hora... de reativar os Guardiões."
Após Magnus dizer isso, Tiago franziu a testa, pensativo, e comentou com um tom de voz grave, quase como se falasse consigo mesmo:
— Eu jurava que o selo dela era pra durar uns dois mil anos...
A cabeça flutuante de Magnus girou levemente em direção a Tiago, e sua voz ecoou com um misto de pesar e frustração:
— E era... — disse pausadamente. — Era pra durar isso mesmo. Dois mil anos de confinamento absoluto. Mas... acredito que pelo nosso último confronto, ela tenha enfraquecido o selo. Ela quase me destruiu por completo, Alpha 9. Me restou apenas isso aqui — a cabeça — e ainda assim por pouco. Foi uma luta apavorante... brutal. O selo estava ligado à minha força vital, e quando quase morri, o selo começou a ruir muito antes do previsto.
Tiago — ou melhor, Alpha 9 — abaixou os olhos brevemente. O brilho metálico de seu corpo refletia a luz azulada do laboratório, e ele permaneceu em silêncio por um instante, respeitando o peso das palavras de seu antigo comandante.
Magnus então ergueu os olhos, com uma centelha de esperança na voz:
— Nesse tempo... Alpha 9, o... ele se recuperou?
Alpha 9 compreendeu imediatamente a quem Magnus se referia. Seu olhar mudou, demonstrando pesar:
— Ainda não, senhor — respondeu com firmeza, mas com uma sombra de tristeza.
— Que pena... — murmurou Magnus, decepcionado. — Eu queria contar com a ajuda dele neste confronto. Ele... seria importante. Fundamental. Uma força que poderia virar a balança a nosso favor...
Ele suspirou, se é que uma cabeça flutuante poderia fazê-lo. Ainda assim, sua voz carregava um pesar notável.
Alpha 9 se adiantou, tentando amenizar a tensão:
— Mas o estado dele está muito melhor do que há mil anos, senhor. Acredito que com mais tempo...
— Bom saber disso... — disse Magnus, encerrando o assunto com um breve aceno de cabeça. — Mas não temos esse tempo, infelizmente.
Magnus então ajustou sua expressão. O olhar se tornou sério, firme, determinado. Ele ergueu o tom de voz e ordenou com autoridade:
— Vamos logo com isso, Alpha 9.
No mesmo instante, Tiago/Alpha 9 se colocou em posição de sentido, batendo com o punho fechado no peito metálico, como um soldado recebendo ordens em uma guerra iminente.
— Sim, senhor! — respondeu em alto e bom som, com a lealdade ecoando em sua voz.
— Como você sabe — continuou Magnus, com uma calma imponente —, o Protocolo Sentinela só poderá ser ativado com cinco jovens. Mas não qualquer um. Eles precisam ter... corações puros. Almas verdadeiras. Coragem além da compreensão comum. E senso de justiça inabalável.
Alpha 9 assentiu em silêncio, absorvendo cada palavra com máxima atenção.
— Quero que os encontre — disse Magnus, com urgência crescente. — E os traga para cá o mais rápido possível. Não podemos perder tempo. A cada segundo que passa, Lara Repulsa se fortalece... e a Terra se aproxima do seu momento mais sombrio. Se demorarmos, ela virá. E ela não terá piedade. Atacará os inocentes. Tomará este mundo. E destruirá tudo o que conhecemos.
Alpha 9 engoliu em seco, ou pelo menos o equivalente robótico disso. Seus olhos brilhavam com energia, determinação e, no fundo, uma pitada de medo. Mas ele sabia qual era seu dever.
— Sim, senhor! — respondeu mais uma vez com firmeza.
Ele girou nos calcanhares metálicos, correndo até o painel central da base. Os cabos do sistema de rastreamento reluziram em tons azulados e verdes. Alpha 9 digitava velozmente, os dedos criando um som rítmico de metal contra plástico. Sua voz começou a sair em murmúrios rápidos e preocupados, como se conversasse com o próprio sistema:
— Ai ai ai ai... tem que ser rápido... jovens com coração puro... onde vocês estão?... a Terra conta com a gente, caramba...
Enquanto ele vasculhava a imensidão de dados, o monitor diante dele exibia imagens ao vivo de várias partes do planeta: campos, escolas, cidades, vilarejos. O tempo corria. E Lara Repulsa... estava vindo.
Enquanto isso...
Nossa atenção se volta para o SESI, uma escola localizada numa região tranquila da cidade. O movimento no portão da frente era calmo naquela manhã ensolarada.
Logo na entrada principal, havia uma porta de vidro por onde os alunos e visitantes passavam. Sentado bem ao lado da entrada, estava um homem moreno, com chapéu preto, camisa azul clara e calça jeans escura, vigiando atentamente quem entrava e saía. O olhar sério e discreto denunciava sua função ali: era o segurança da escola.
À direita da entrada, ficava a recepção. Uma moça simpática mexia concentrada no computador, digitando dados enquanto falava ao telefone com voz firme. Atrás dela, uma porta de vidro dava acesso à biblioteca, que se espalhava por um espaço de tamanho médio, repleto de prateleiras organizadas, mesas de leitura, seis computadores e vários alunos uniformizados.
A bibliotecária, uma mulher de cabelos presos em coque e óculos na ponta do nariz, observava tudo com olhos atentos. Ela supervisionava a movimentação enquanto digitava relatórios escolares em seu computador.
Os alunos usavam o uniforme padrão da escola: camisa branca com detalhes azuis, calça azul comprida, alguns com o casaco da escola, azul escuro com as iniciais SESI em branco no peito.
No corredor lateral da biblioteca, caminhava um aluno específico, com passos calmos e atenção 100% focada no que segurava nas mãos.
Era João Gabriel — um jovem moreno, de cabelos castanhos bem penteados, usando óculos de armação preta. Ele vestia o casaco azul da escola, onde se lia seu nome bordado em branco, junto com a sigla da instituição. Próximo ao nariz, um sinal de nascença marcava suavemente seu rosto. Ele usava também calça azul comprida e sapatos pretos bem engraxados.
Nas mãos, João lia atentamente o livro "Diário de um Banana 3", completamente imerso na leitura enquanto caminhava lentamente entre as prateleiras.
Foi aí que a situação mudou.
Do outro lado do corredor, dois garotos mais altos vinham caminhando em sua direção, rindo alto. Um deles deu uma cotovelada leve no outro e apontou para João, que nem os tinha notado.
— Olha lá, o nerdzão da banana! — zombou o primeiro, loiro de cabelo raspado dos lados.
— Ele vai tropeçar e cair dentro do livro uma hora dessas — debochou o outro, que usava boné ao contrário.
Sem levantar os olhos, João respondeu com um sorrisinho tímido:
— É... pelo menos eu leio alguma coisa que preste...
— O quê? — disse o loiro, parando na frente dele. — Tá se achando, é?
João parou finalmente, fechando o livro com o dedo marcando a página.
— Eu só disse a verdade — rebateu calmamente.
— Vai pagar de sabichão agora, Banana Boy? — retrucou o do boné.
Antes que a discussão continuasse, o loiro estendeu o pé bem no momento em que João tentava sair andando. O garoto tropeçou com tudo.
— OPA!
Ele se desequilibrou, girando de lado... e bateu de costas numa das prateleiras.
CLANC!
A prateleira balançou.
— Não, não, não! — murmurou João.
Ao tentar se segurar, bateu em outra prateleira.
CLANC!
CLANG!
CRAAASH!
Uma reação em cadeia. As quatro prateleiras centrais da biblioteca caíram como dominós gigantes, derrubando livros, enciclopédias e revistas no chão em uma explosão de papéis.
João, deitado entre os livros, com "Diário de um Banana" ainda na mão, olhou para cima e murmurou:
— Acho que derrubei... a biblioteca inteira...
Os alunos riram alto. A bibliotecária gritou:
— MAS O QUE É ISSO?!
João se levantou num salto, envergonhado, e começou a correr:
— Desculpa! Foi sem querer! Eu juro!
Ele correu pelo corredor entre os risos e os gritos, com um livro ainda na mão, tropeçando nos próprios passos, esbarrando em um carrinho de livros, que também tombou.
— João Gabriel, volte aqui! — gritou a bibliotecária, indignada.
Ele já tinha passado voando pela recepção e pela porta de vidro da frente, deixando todos os alunos da biblioteca em gargalhadas, os valentões confusos e a bibliotecária com um rombo nos relatórios do dia.
Em outro ponto da escola...
Uma porta de madeira com uma placa metálica em cima carregava os dizeres:
“Sala de Academia e Treinamento”.
Ao abrirmos essa porta, o som ambiente mudava: o eco de passos no tatame, gritos controlados de luta, impactos secos de socos e chutes preenchiam o espaço. A sala era ampla, com paredes acolchoadas, ventiladores de teto girando lentamente, e um grande tatame vermelho e azul ocupando o centro.
Vários alunos com roupas esportivas treinavam intensamente, em duplas, sob o olhar atento de um professor musculoso, de braços cruzados, parado ao lado de uma prancheta.
No centro do tatame, uma luta em destaque acontecia.
De um lado, um jovem de estatura alta, pele parda, cabelos pretos e compridos até os ombros, preso por uma faixa elástica. Ele usava uma camiseta verde-água justa, short azul escuro e luvas de treino.
Ele era Max.
Do outro lado, um adversário ligeiramente mais baixo, de cabelos raspados e expressão séria, avançava com um soco de esquerda, rápido e direto.
Max desviou com agilidade, inclinando o tronco. Aproveitou a abertura e respondeu com um direto de direita, o punho firme acertando o ombro do oponente. Na sequência, girou o quadril, levantando a perna e acertou um chute com a perna esquerda, pegando em cheio na lateral do tronco do adversário.
O impacto foi preciso.
O adversário caiu de lado no tatame.
— LUTA ENCERRADA! — gritou o professor.
Max sorriu levemente, respirando fundo. Passou a mão no rosto para limpar o suor, estendeu a mão para o adversário e disse, com um tom respeitoso:
— Boa luta, irmão.
O adversário aceitou a mão e se levantou, ainda ofegante.
Do canto da sala, o professor assentiu, satisfeito.
— Muito bem, Max. Técnica limpa, equilíbrio e respeito. Continue assim.
Max fez um leve gesto de saudação com a cabeça, sério, mas com um brilho no olhar. Voltou para a borda do tatame, sentando-se para respirar fundo, observando os outros treinos ao redor.
Enquanto isso, na quadra de futsal da escola...
O sol da tarde atravessava as janelas altas, iluminando parcialmente a quadra coberta. Dois times estavam em ação: um usando uniforme laranja com a logo do SESI no peito, o outro vestia coletes brancos por cima da camisa da escola.
O jogo estava intenso.
O time de colete acabava de interceptar um contra-ataque. Um dos jogadores, de estatura um pouco baixa, cabelo com topete bem-feito, dominou a bola com um toque preciso no peito e a colocou no chão com suavidade.
Era Junin Paiva, ala direito e titular absoluto do time da escola.
Ele arrancou pelo lado esquerdo, com velocidade e confiança. Um adversário veio de frente — Junin aplicou um corte seco para a direita, o jogador escorregou. Outro marcador se aproximou pelo centro — Junin deu um elástico, e passou.
A torcida dos colegas fora da quadra começou a gritar.
Já na entrada da área, um terceiro adversário veio na cobertura, tentando travar. Junin puxou a bola com a sola do pé, deixou o marcador no chão, olhou rapidamente para o gol e bateu de direita, cruzado, rasteiro.
A bola foi firme, rente ao chão, passou pelo goleiro que saltou tarde demais, e beijou a trave antes de entrar no canto da rede.
GOOOOL!
Junin abriu os braços, caminhando devagar pela lateral da quadra com um sorriso no rosto e os olhos fechados, respirando fundo como quem dizia "é isso". Os colegas de time correram até ele para comemorar.
— Boa, time do colete! Boa, Junin! — gritou o treinador, de pé ao lado da quadra.
Ele era Cesário Júnior, homem calvo, com cabelos brancos nas laterais, e usava uma camisa do Flamengo do Piauí por baixo de sua jaqueta.
Com o apito ainda ecoando, ele olhou para o time de uniforme laranja, irritado:
— E vocês?! Como é que perdem uma bola dessas? Era só tocar! Não podem sofrer um contra-ataque desse jeito!
Os jogadores de laranja abaixaram a cabeça, respirando fundo, tentando se recompor.
Enquanto Junin voltava pro meio da quadra com os colegas do time do colete, alguém gritava das arquibancadas, com a voz carregada de ironia:
— Óóó, olha ele se achando só porque fez um gol! Vai querer estátua agora, Junin?!
Era Beka Paiva, prima de Junin, sentada na arquibancada com as pernas cruzadas e uma expressão debochada no rosto. Ela era morena clara, cabelo castanho escuro liso, preso num coque malfeito. Usava a mesma camisa da escola, só que com a gola cortada, e uma calça jeans rasgada no joelho. Tinha uma pulseira de miçangas coloridas e tênis brancos meio sujos.
Do lado dela, estava Luka, uma garota de expressão séria, sempre na dela, mas que falava o que pensava. Tinha o cabelo liso e preto, com uma franja que quase cobria os olhos. Ela usava óculos redondos e estava com os braços cruzados, observando o jogo com atenção.
— Pelo menos ele fez um golaço — comentou Luka, sem desviar os olhos da quadra.
— Golaço nada, ele tropeçou, caiu, e a bola entrou sem querer — respondeu Beka com um sorriso sacana.
Luka soltou um risinho discreto.
Na quadra, Junin ouviu a provocação da prima e olhou pra arquibancada, sorrindo.
— Fica com inveja mesmo, Beka! Quando tu fizer um gol assim, a gente conversa!
Beka jogou a cabeça pra trás fingindo gargalhar alto, depois respondeu:
— Eu faço isso de olho fechado, Junin. Só não quero humilhar!
— Aff... vocês são tipo um casal, mas com o mesmo sobrenome, comentou Luka, sem filtro, ainda olhando pra quadra.
Beka e Junin se olharam com cara de “eca”, e os dois falaram ao mesmo tempo:
— Cruzes!
Depois disso, Beka deu um soquinho no ombro de Luka, rindo, enquanto Junin voltava pro jogo tentando segurar o riso.
Enquanto a bola voava de volta ao centro da quadra, pronta para o renício do jogo, um tremor súbito sacudiu o chão da escola SESI. Foi um estremecer rápido, mas intenso o suficiente para derrubar crachás, sacudir mesas na recepção e fazer o segurança de chapéu preto se apoiar com as duas mãos no balcão de vidro. Alunos que caminhavam pelos corredores se desequilibraram, alguns caíram de cócoras, outros lutaram para manter os pés firmes, abraçando-se aos trilhos das portas ou às colunas de concreto. Foi um fenômeno universal: o reboliço não se restringiu à quadra ou à biblioteca — das salas de aula aos restaurantes do centro da cidade, toda Parnaíba estremeceu, como se um gigante acordasse sob a terra.
Dentro da escola, João Gabriel, ainda ofegante após a fuga desastrada da biblioteca, chegava ao banheiro quando sentiu o chão vibrar sob os pés. O espelho riu em fissuras espirais, pia e torneiras balançaram, o azulejo rachou. Ele se segurou no batente da porta, olhando para o espelho reto, onde seus olhos arregalados se refletiam.
Lá fora, na quadra, Junin Paiva parou em posição defensiva, a mão ainda no joelho do adversário. Beka e Luka, nas arquibancadas, se levantaram apavoradas. O time sem colete soltou um “Eita!” coletivo, e o técnico Cesário Júnior ergueu os braços, tentando manter a calma.
– É um tremor, meu Deus! – gritou ele, mas sua voz foi engolida pelo estrondo do piso que gemia.
Na sala de treinamento, Max sentiu o tatame ranger e o professor cambalear para trás. As luvas de treino caíram no chão, e os alunos se abraçaram, os rostos tensos.
Então, como se o chão fosse um portal, rachaduras espessas se alastraram pelo piso. Primeiro pequenas fendas, depois abismos de onde brotaram mãos ossudas. De cada fenda emergiram criaturas humanoides, pálidas como cinza, com pele esticada sobre ossos, rostos fundidos em feições de terror. Seus olhos eram brasas vermelhas, cintilando de fome. Sem emitir um som que se assemelhasse a voz, elas avançaram em estocadas silenciosas sobre os alunos.
No banheiro, João Gabriel recuou, escorregando no piso úmido. Sem pensar, empurrou a porta que batia e correu para o corredor, onde dois esqueletos o cercaram. Ele ergueu os braços, segurando um rolo de papel e, com uma adrenalina que não sabia ter, jogou-o contra o primeiro monstro — o papel se desenrolou e enrolou no esqueleto, que gargalhou um eco oco ao tentar se libertar. João, então, deu um chute certeiro na perna frágil do outro, estilhaçando ossos de mentira, e fugiu em disparada para o pátio interno.
Na quadra, Junin parou o jogo no meio da pandemia de estilhaços de concreto. Dois dos adversários se encolheram, enquanto os esqueletos surgiam aos poucos do assoalho rachado. Junin não hesitou: com o uniforme do colete já encharcado de suor, ele driblou o primeiro esqueleto com um toque de calcanhar e aplicou um chute giratório, acertando o crânio oco e fazendo a cabeça voar em fragmentos ósseos. Cada movimento era poesia de luta, passada a passada, até que a bola ficou presa em um montinho de cacos. Ele gritou:
– Cai fora, criatura de horror!
E correu em direção à saída lateral, onde Beka e Luka desciam as arquibancadas, assistindo em choque à carnificina.
Em seu canto de vigilância, o segurança vestia óculos escuros, mas desta vez nada podia esconder o medo em seus olhos. Ele se jogou atrás da recepção, quando os esqueletos começaram a atravessar as paredes com facilidade.
Max, na sala de treinamento, saltou para longe de um dos monstros e agarrou um saco de areia de treino. Girou o saco como um martelo humano e desferiu golpes brutais nos ossos secos. Quando a criatura encolheu-se, Max gritou:
– Aqui não! Terrorista interplanetário que quer rasgar o mundo!
Ele puxou o adversário para o centro do tatame, encaixou uma chave de braço improvisada — algo que aprendeu no último confronto contra Lara — e o esqueleto estalou antes de ruir em pó.
Na arquibancada, Beka empurrou Luka:
– Corre! Se isso chegar ao refeitório, acabamos fritas!
Elas mergulharam nos corredores, onde João corria de encontro. Ele trombou em Junin, que o empurrou de lado, salvando-o de um ataque de um esqueleto que brotava no piso. Max, correndo pelo corredor ao lado, segurou a algema da bolsa de treino e bateu no crânio de outra criatura, abrindo uma fenda de onde saiu fumaça cinzenta.
— Precisamos sair! — gritou Max, ofegante.
Junin, ainda de chuteira e colete sujos, assentiu com o rosto suado:
— Lá na saída lateral! Esquerda!
João, Beka e Luka juntaram-se a eles, respirando com dificuldade. A porta de emergência estava à vista, com a placa “Saída de Fundos” balançando sobre a fenda no chão.
Sem hesitar, os cinco — João Gabriel, Junin Paiva, Beka Paiva, Luka e Max — correram juntos, enquanto atrás deles, o coro de estalos e sussurros demoníacos anunciava mais monstros subindo do solo.
Na saída lateral da escola, os cinco jovens estavam ofegantes, suados, ainda sujos da luta, mas vivos. Luka, mesmo sendo a mais calada, respirou fundo, se pôs à frente dos outros e, sem hesitar, assumiu o controle da situação.
— Fiquem atrás de mim... Eu abro.
Sua mão se estendeu até a barra metálica da porta de emergência. O ferro gelado parecia vibrar, como se pressentisse o que estava por vir. E quando Luka empurrou, não houve o rangido esperado da maçaneta... Em vez disso, um clarão branco tomou conta de tudo.
Como se o tempo parasse e a matéria fosse sugada por um vórtice de luz, os cinco foram engolidos por aquele brilho intenso. A porta atrás deles sumiu. O chão também. Quando a luz desapareceu... não havia mais ninguém naquele local. Só o eco.
Lá fora, os esqueletos humanoides pararam subitamente, como se tivessem perdido o sinal. Piscaram os olhos vermelhos, coçaram a cabeça óssea com expressão confusa. Um deles olhou para os lados e balbuciou com voz rouca:
— Ué... sumiram?
Outro ergueu os ombros em um gesto de "não sei", e a matança cessou por alguns instantes.
Na base secreta de Magnus...
De repente, a mesma luz branca apareceu no centro da sala circular, envolta por painéis estranhos e símbolos de outro mundo. Quando o clarão se dissipou, lá estavam eles — Junin, João Gabriel, Beka, Luka e Max — ajoelhados, desorientados, os olhos tentando entender o lugar onde estavam.
Tudo ali parecia tirado de um filme: paredes metálicas, cabos passando por tubos de energia, um painel holográfico no centro e um orbe flutuante com uma cabeça falante no meio da sala.
Beka foi a primeira a notar e gritar.
— AAAAAH!! — Ela apontou, arregalada, sem entender se era medo ou raiva.
O grito fez Junin e os outros saltarem.
— Que foi, Beka? — ele perguntou, até olhar na mesma direção. — MAS QUE PORRA É ESSA?!
Todos viraram e viram a cabeça flutuante, sem corpo, uma espécie de holograma sólido com traços de sabedoria antiga e olhos que pareciam estrelas. O orbe a sustentava, girando em espirais suaves no ar.
— Isso não é normal, cara. Isso não é normal! — disse Max, puxando o colar que carregava no pescoço como se fosse um crucifixo.
Luka, por sua vez, murmurou em tom seco, os braços cruzados, tentando racionalizar:
— Acho que morremos... ou estamos drogados... ou o lanche de graça do Sesi era estragado.
— Se a esmola é de graça até o diabo desconfia — concordou Max, ainda chocado.
João Gabriel se encolheu atrás dos outros, espiando por cima do ombro de Beka como se ela fosse um escudo.
Então, a cabeça falou. Sua voz era grave, mas calma, com uma entonação sábia que ecoava pela sala.
— Não temam.
Isso só fez os cinco darem um passo para trás em sincronia.
— Eu sei que tudo isso é confuso, mas não tenham medo. Eu sou um aliado.
João Gabriel sussurrou bem baixinho, a voz trêmula:
— Q-quem é você?
— Sou Magnus — disse a cabeça, em tom solene. — Um antigo mago, protetor das fronteiras místicas da Terra. Lutei em batalhas que nem mesmo os livros ousam contar. E selei, há muito tempo, a ameaça que agora voltou a assombrar o mundo.
Junin, ainda nervoso, perguntou:
— Você tá falando dos homens cinza, aqueles esqueletos que atacaram a cidade?
Magnus fechou os olhos, como se sentisse dor só de lembrar.
— Não. Eles são apenas os primeiros peões. A verdadeira ameaça é Lara Repulsa...
O nome ecoou na sala. Um frio percorreu as costas dos cinco jovens. Luka estreitou os olhos, Beka engoliu seco, Max cerrou os punhos. Junin encarou a cabeça com mais atenção.
— Quem é ela? E por que... a gente? Por que estamos aqui?
A cabeça flutuante girou lentamente.
— Porque vocês cinco possuem algo raro. Um elo. Um potencial. E o destino os escolheu para enfrentar Lara Repulsa e seus asseclas antes que a Terra seja consumida por sua escuridão.
— Por que nós cinco fomos escolhidos? — perguntou Luka, ainda com as sobrancelhas franzidas, cruzando os braços.
A cabeça flutuante de Magnus inclinou-se levemente. — Na verdade... eu não sei ao certo. Foi meu assistente, Alpha 9, quem os teleportou para cá.
No exato instante em que ele pronunciou “Alpha 9”, um som metálico ecoou pela sala, como placas de aço se movendo em articulações antigas. As luzes tremeluziam e, um a um, os cinco olharam para o rumo do painel central. Dali, surgiu um robô humanóide, seus movimentos suaves concluindo-se num aceno amistoso.
Seus olhos artificiais brilharam em tom azulado quando disse:
— Oi! Sou Alpha 9, mas podem me chamar pelo meu codinome de Tiago Evangelista.
Os jovens arregalaram-se, trocando olhares incrédulos. Tiago ergueu a mão num novo aceno e, num piscar de olhos, sua superfície mecânica brilhou e se transformou em… o rosto familiar de Tiago, o atendente da lanchonete.
— Peraí… — suspirou Beka, levando a mão ao queixo. — Eu lembro de você! Você é o cara desajeitado da “Escondidinho dos Salgados”, aquele que fica no caixa, né?
Tiago sorriu de canto, ajeitando um botão imaginário da camisa. — Sim, sou eu. E lembro de você também, Beka. Seu namorado, o Rayan, fala bastante sobre você… Aliás, ele deve estar lá na lanchonete agora mesmo.
Enquanto Beka arregalava o olhos e começava a ensaiar um “tá tudo bem com ele?”, Tiago fez um sinal de “tudo tranquilo” com o polegar afastado, o que trouxe um relento de alívio para ela.
Luka, contudo, não deixou a brecha passar. — Voltemos à pergunta: por que vocês nos escolheram, Tiago?
Ele suspirou, cruzando os braços metálicos e tomando um tom solene:
— Bem… quando vi vocês enfrentando aqueles esqueletos — virou-se para Junin e apontou para os outros — senti que seriam dignos de participar do Protocolo Sentinela. Além disso, minhas análises mostram que seus corações são puros.
Beka, sempre pronta para provocar, deu um risinho escarninho. — Coração puro do Junin? Só se for cheio de pedras e poluído! — ela alfinetou, bufando. — Já vi ele saindo correndo para a casa de uma garota… com uma camisinha na mão!
Junin, que até então mantinha postura calma, cerrou os punhos. O rubor subiu-lhe ao rosto, e ele arregalou os olhos. Antes que pudesse rebater, sua voz soou tensa:
— Beka, cala a boca!
O silêncio cortante do momento fez Luka e João se afastarem um pouco, impedindo que a discussão virasse algo ainda mais intenso. Max, por sua vez, ergueu as mãos, tentando apaziguar:
— Ei, ei, calma! A gente não pode se atacar agora!
Mas Junin já tinha avançado um passo em direção à prima, encarando-a com raiva contida:
— A gente tem coisa mais importante para fazer do que ouvir suas piadas!
Tiago observava a cena com uma expressão quase humana, enquanto Magnus assentia levemente, como que compreendendo o conflito natural entre eles.
O bate-boca entre Beka e Junin continuava acalorado, como se cada palavra fosse uma faísca prestes a incendiar todo o ambiente. Ela sacudia a cabeça, jogando o cabelo solto para trás, enquanto ele cerrava os punhos, os músculos do antebraço saltando sob a pele. Suas vozes se cruzavam, altas, afiadas, cada um tentando afundar o outro em provocações cada vez mais pessoais.
— Você só fala isso porque tá com ciúmes! — acusou Beka, revirando os olhos.
— Ciúmes de quê? — retrucou Junin, o peito inchado de orgulho ferido. — Se quem precisa de atenção é você, sempre grudada nesse discurso sarcástico!
Eles se aproximaram um do outro, a poucos centímetros de distância, as bochechas rosadas pela tensão. O ar ao redor parecia vibrar com a intensidade do desentendimento.
Então, sem aviso, Max explodiu.
“A CALÍCE! CALÍCE! — gritou ele, mal conseguindo conter a irritação que o dominava. Num movimento instintivo, Max avançou, agarrou Beka pelos cabelos e, num só impulso, fez o mesmo com Junin, puxando os dois para bem perto de seu rosto.
Os três tombaram para frente como num único bloco desequilibrado. Beka e Junin ficaram com as expressões caricatas de um mangá: olhos arregalados, bochechas infladas, bocas em “O” perfeito, congeladas em chóque e indignação. Tentavam empurrar o corpo um do outro para afastar Max, mas ele segurava firme, puxando as duas cabeças para o centro, obrigando-os a ficar sob seu olhar furioso.
— Eu não aguento mais! — Max berrou, o rosto vermelho e a voz ecoando pelas paredes metálicas da base. — Eu não quero ouvir vocês dois com essas baboseiras! — Ele sacudiu a cabeça de ambos, fazendo os cabelos balançarem como se fossem bandeiras de um navio à deriva. — COMPORTEM-SE!
No esforço de conter a voz estridente de Max, as cabeças de Beka e Junin bateram uma na outra com um estalo seco. Foi tão repentino que, por um instante, os três ficaram imóveis, surpresos.
— Ai... — gemeu Beka, esfregando a têmpora, enquanto Junin fechava os olhos, levando a mão à nuca.
Max os soltou de repente, respirando fundo, ainda tão tenso que parecia que seus ossos metálicos rangeriam. Beka e Junin se entreolharam, atônitos — as faces ainda vermelhas, os cabelos fora do lugar, o uniforme amassado.
— Desculpa… — ela murmurou, a voz embaraçada e um tanto envergonhada.
— Foi mal… — Junin completou, ajeitando o colete e evitando olhar diretamente nos olhos de Beka.
Max bufou, jogando as mãos para o alto, quase como se jogasse as próprias dúvidas para o teto.
— Isso não vai ajudar ninguém! — soltou ele, pegando um fôlego longo e olhando para cada um em sequência. — A gente não tem tempo pra esquentar a cabeça com brigas de primos! Tem coisa muito maior pra gente encarar — e, a julgar pela cara de vocês, ninguém aqui nunca gostou de sofrer esse tipo de dor de cabeça.
O silêncio que se seguiu foi espesso. As palavras de Max tinham peso, como se um freio tivesse puxado o trem desgovernado daquela confusão. Beka passou a mão pelos cabelos, Junin cruzou os braços e Max, ainda arfando, observava o chão, os ombros caídos.
Então, lentamente, João Gabriel, que assistia a toda cena de lado, soltou um suspiro baixo e deu um passo à frente.
— Tá bom — ele disse, a voz doce contrastando com a tensão que pairava. — A gente precisa mesmo estar junto agora. E, se virar tudo contra nós, não vai adiantar nada.
Luka acenou concordando, enquanto Max endireitava a postura e, pela primeira vez naquele dia, abriu um sorriso pequeno, mas sincero.
— Certo... — murmurou Max. — Vamos em frente.
João Gabriel baixou o tom, mas a curiosidade ecoou forte por toda a sala:
— Então, senhor Magnus e Evangelista… o que é essa tal de Lara Repulsa, esses esqueletos e esse poder de que vocês falam?
Tiago ergueu o olhar, ajeitou os ombros metálicos e franziu a expressão, buscando as palavras certas. Magnus, por sua vez, flutuou a cabeça em sinal de aprovação, encorajando-o a falar.
— Bom… vamos lá — suspirou Alpha 9, fingindo um gesto pensativo com a mão mecânica —. Lara Repulsa é uma feiticeira altíssima, conhecida em inúmeros sistemas estelares e galáxias. Dizem que, em sua época, ela brilhava como um prodígio da magia, dominando invocações e raios — a especialidade dela. Mas o desejo de poder e o rancor tomaram conta de sua mente, e, no fim das contas, foi preciso um exército de aliados para contê-la.
Magnus acrescentou, a voz soando grave:
— Eu a confrontei pessoalmente, com a ajuda de bravos guerreiros intergalácticos. Conseguimos selá-la em um contêiner sagrado, fincado na superfície lunar da Terra. O selo deveria durar dois mil anos, mas, por causa do meu quase sacrifício naquele confronto, sua força diminuiu bem antes do previsto. Cem vezes menos do que o necessário.
— E agora ela está aqui por vingança — completou Tiago. — Veio em busca de libertação… e de destruição.
Luka bufou, cruzando os braços:
— Por que justo a Terra? Não bastasse a gente ver alienígenas na TV e robôs em Hollywood, agora é na vida real?
Magnus suspirou como se a pergunta fosse antiga:
— A Terra tem uma energia mística única. Até adormecido, parte do meu poder ainda estava ligada ao planeta. Foi isso que atraiu Lara de volta.
Max ergueu a mão, sério:
— E por que vocês nos trouxeram pra cá, então?
Tiago pousou o olhar em cada um dos cinco:
— Para recuperar o corpo de Magnus — apontou para a cabeça flutuante — e protegê-lo até que ele recupere sua forma original. Além disso, para guardar o selo ancestral que mantém Lara Repulsa aprisionada.
João Gabriel repetiu, quase em transe:
— Esse poder ancestral poderia derrotá-la antes, certo?
— Exatamente — afirmou Magnus, numa voz que reverberou leveza. — São instrumentos antigos, criados por magos e artesãos de eras passadas. Eles têm energia capaz de neutralizar qualquer magia maligna.
Junin estufou o peito e, impaciente, gritou:
— Mas como é esse poder? Alpha, nos diga!
Tiago sorriu, caminhou até o grande console holográfico e abriu uma gaveta de metal escovado, por baixo do monitor central. Com cuidado reverente, ele puxou uma maleta prateada. Seus dedos robóticos suspenderam-na, brilhando à luz fria da base. Aproximou-se do grupo e, num gesto quase cerimonial, destravou os fechos exteriores.
Enquanto Magnus continuava a falar, a maleta se abriu em clique suave, revelando cinco dispositivos idênticos: cada um com o formato de um disco achatado, bordas cromadas e, no centro, um símbolo luminoso. Eram os talismãs do poder ancestral, os verdadeiros guardiões do selo.
Tiago apontou o primeiro, com o emblema de um T-Rex vermelho. Ao lado, alinhados, havia um disco azul com o símbolo de um Tricerátopo, um preto com o Mastodonte, um rosa com o Pterodáctilo e, por fim, um amarelo com o Tigre Dente-de-Sabre.
— São… dinossauros e um tigre? — Junin exclamou, a surpresa largando os braços no ar, olhos arregalados.
— Sim — confirmou Tiago, com um meio sorriso. — Esses são os Power Morphers, canalizadores de energia primordial. Cada um de vocês receberá um deles e, quando ativados, lhes concederão força, velocidade e um traje de combate infundido com a essência do seu espírito guardião.
A sala prateada da base ancestral pulsava com uma energia diferente. O som da maleta se fechando ecoou entre os jovens, agora com os Power Morphers nas mãos. Cada um segurava seu dispositivo como se fosse uma relíquia sagrada, porque, de certa forma, era exatamente isso.
Max, que agora carregava o morpher vermelho com o emblema do Tiranossauro, olhou com firmeza para Tiago e Magnus.
— Espera aí… mesmo que a gente se transforme nesses… heróis, ainda assim a gente não tem a menor ideia de como lutar contra uma feiticeira cósmica maluca! — disse, encarando a realidade com frieza e seriedade.
Magnus respondeu com voz calma, porém grave:
— Fiquem tranquilos. O poder ancestral, no momento da transformação, irá conceder a vocês as memórias físicas, espirituais e de combate dos antigos portadores. Serão preenchidos por reflexos, habilidades e a compreensão natural de como usar seus poderes.
Tiago assentiu ao lado.
— Mas isso… só vai acontecer uma vez. Um presente dos espíritos para que vocês consigam enfrentar Lara Repulsa pela primeira vez e não pereçam.
— Como assim "só uma vez"? — questionou Beka, a voz oscilando entre a dúvida e o medo. Ela segurava firme o morpher rosa com o símbolo do Pterodáctilo, os olhos semicerrados em desconfiança.
Magnus se virou para ela, a aura azulada ao redor de sua cabeça intensificando-se.
— Depois de destransformados, vocês terão que treinar. Precisarão ganhar a confiança total dos seus espíritos ancestrais. Só assim conseguirão acessar novamente todo o potencial dos seus poderes.
João Gabriel, já com o morpher azul do Tricerátopo nas mãos, respirou fundo.
— Então, a gente tem uma chance. Uma janela de poder total pra começar… mas depois, vai depender da nossa força de vontade.
— Exatamente — disse Tiago. — Mas se conseguirem essa conexão espiritual… se honrarem seus papéis… vocês serão mais do que guerreiros. Serão lendários.
— Então o que é que a gente tá esperando? — sorriu Beka, empolgada. — Vamos nessa!
Ela olhou para Tiago com os olhos brilhando.
— Como é que faz pra se transformar mesmo?
Tiago deu um passo à frente.
— Simples: o primeiro que for se transformar diz “Hora de Morfar” e fala o nome do seu espírito ancestral. Os outros apenas dizem o nome de seus espíritos. Concentrem-se no poder, fechem os olhos se precisar… deixem o espírito guiar vocês.
Todos assentiram. Era como se, naquele momento, o mundo inteiro tivesse ficado em silêncio. Até as luzes da base pareciam menos intensas, como se respeitassem o momento sagrado.
Max respirou fundo. Seu olhar foi de um a um: João, Luka, Beka, Junin.
— Se é pra proteger esse planeta… e pra evitar que mais alguém sofra… então vambora!
Ele ergueu o morpher vermelho, e gritou com toda a alma:
— HORA DE MORFAR! TIRANOSSAURO!
No mesmo instante, o morpher brilhou em vermelho flamejante e Max foi envolto por uma energia poderosa. Seu corpo foi coberto por um traje justo e reluzente vermelho, com detalhes brancos nos braços e nas botas. Um capacete com o formato de um Tiranossauro se formou sobre sua cabeça, com uma viseira preta em forma de mandíbula aberta. A armadura dele tinha um peito branco com o diamante vermelho no centro.
Beka seguiu em seguida, gritando:
— PTERODÁCTILO!
Uma luz rosa cintilante a envolveu. Ela ergueu o morpher como se fosse uma chama viva, e seu corpo foi coberto por um traje rosa intenso, elegante, com detalhes brancos nos punhos e canelas. O capacete rosa tinha o formato de um Pterodáctilo, com uma viseira estilizada em forma de bico. A armadura moldava perfeitamente sua silhueta, reluzente como cristal.
Junin fechou o punho e gritou:
— MASTODONTE!
A energia negra irrompeu ao redor dele. Seu uniforme se formou num clarão escuro e metálico, cobrindo seu corpo com o traje preto, reforçado nas ombreiras. O capacete tinha o desenho frontal de um Mastodonte, e a viseira preta replicava as presas curvas do animal. Seu peito exibia o diamante branco clássico, sólido como pedra.
João Gabriel deu um passo adiante, sereno e firme.
— TRICERÁTOPO!
A aura azul se ergueu como um rio em movimento. Seu traje azul tomou forma com precisão, cobrindo-o por completo. O capacete trazia três chifres e uma viseira em forma de escudo. Os braços e pernas brilharam em azul elétrico, com o peito adornado pelo diamante branco.
Por fim, Luka fechou os olhos. Sentiu algo dentro de si… um rugido calmo, sábio, protetor.
Ela abriu os olhos, brilhando em dourado.
— TIGRE DENTE-DE-SABRE!
A energia amarela explodiu em volta dela, como um sol libertando seu poder. O traje amarelo vibrante cobriu cada parte do seu corpo com suavidade e firmeza. O capacete lembrava a mandíbula de um tigre ancestral, e a viseira preta parecia os olhos felinos da fera. Quando terminou de se transformar, a aura de sua armadura brilhou por um instante a mais que os outros — um sinal do vínculo com o espírito protetor do Tigre.
Magnus observava em silêncio, os olhos cheios de reverência.
Tiago sorriu, com o peito estufado de orgulho.
— Eles estão prontos.
Magnus assentiu solenemente após observar os cinco jovens completamente transformados. Seus olhos, normalmente serenos como o céu noturno, agora estavam intensos, carregados de responsabilidade.
— Rangers… a Terra conta com vocês cinco. — falou com a voz grave, quase como um juramento ancestral sendo selado.
Ao lado, Tiago ativou o monitor central. As telas se iluminaram em vermelho e amarelo, revelando imagens devastadoras: ruas em chamas, pessoas correndo em pânico, prédios parcialmente destruídos, e, pior que tudo… esqueletos sombrios marchando pelas vias, armados com lanças enferrujadas, olhos brilhando em um verde doentio.
Uma mulher chorava agarrada ao filho, enquanto um grupo de esqueletos avançava sobre eles. Um ônibus escolar tombado soltava fumaça negra, e o chão da rodoviária estava repleto de rachaduras.
Max, João, Junin, Luka e Beka encararam a tela. Um silêncio sepulcral tomou conta da base. E então, todos — todos — cerraram os punhos com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. A raiva, a dor, a indignação… tudo fervia por dentro. O suor escorria por debaixo dos capacetes. Mas não era medo — era fúria justa.
Luka foi a primeira a falar.
A sua voz não era mais a da garota calma de antes. Era a de uma guerreira marcada pela dor e guiada por justiça:
— Eu não vou perdoar essa desgraçada. A Lara vai pagar com a própria vida! — gritou, a voz ecoando pela base como um trovão de vingança.
Max virou o rosto devagar para o grupo. O olhar determinado, sem hesitação.
— Equipe! Vamos nos dividir!
Apontou:
— Junin e Luka, cuidem da escola e da rodoviária. Façam a limpa nesses esqueletos, salvem quem puderem!
— João, Beka e eu vamos direto pro centro e o restante da cidade. Não vamos deixar nada dessa praga ficar de pé!
Todos concordaram com um aceno de cabeça, como verdadeiros soldados recebendo a missão final.
Magnus ergueu a mão e apontou para Tiago:
— Tiago! Teletransporte imediato! Mesmo com os poderes deles, vamos agilizar! — gritou com firmeza.
Tiago não perdeu tempo. Correu até o painel do teleporte, os dedos deslizando pelos botões com precisão. O mapa da cidade se dividiu em setores na tela holográfica. Com um movimento fluido, Tiago programou as coordenadas.
— Boa sorte, Rangers… detenham essa maldita de uma vez por todas! — disse, com os olhos cheios de fé.
— SIM SENHOR!! — gritaram os cinco em uníssono, em vozes que estremeceram a base.
Uma luz branca intensa — a mesma que os trouxe até ali pela primeira vez — surgiu novamente. Mas agora, ela era ainda mais intensa, mais quente. Ela reconhecia os novos protetores. Ela os aceitava.
Os corpos dos cinco Rangers foram envolvidos pela luz, que parecia dançar ao redor deles como uma energia viva. Um trovão ecoou.
E num piscar de olhos…
Eles desapareceram.
A Terra não estava mais sozinha.
A resposta aos gritos do mundo havia chegado.
Os Rangers Ancestrais haviam partido para o campo de batalha.
As paredes tremeram como se quisessem desabar enquanto Junin, em sua armadura negra cintilante, irrompeu pelo corredor tomado por fendas e poeira. Um esqueleto avançou — ossos rangendo — empunhando uma lâmina curva. Sem piscar, Junin soltou um gancho de esquerda que explodiu contra o tórax oco do inimigo, o chute do impacto reverberando em seu antebraço metálico. Antes que pudesse se recompor, ele rolou sob uma mesa tombada, escorregou por baixo dela e, num movimento fluido, ergueu o joelho contra outro esqueleto que o perseguia, lançando-o contra a parede rachada.
Cada passo de Junin era calculado como o drible de um craque: saltava entre colunas de sustentação, desviava de ossos voando e ergueu os olhos, percebendo então a cena quase surreal que o aguardava. Dezenas de lanternas vermelhas flutuavam do piso rachado, revelando dez esqueletos, lanças em punho, cercando a quadra de futsal.
Por uma fração de segundo, Junin hesitou — então seus dedos envolveram a superfície lisa de uma bola de futsal intacta que descansava ali, como convocada pela própria urgência do momento. Ele a dominou com a sola do pé: um toque, dois toques, dez toques, cada quique firme contra o concreto manchado de poeira. Quando a esfera ergueu-se no ar pela última vez, Junin recuou, encolheu o corpo, posicionou a perna esquerda com a precisão de um arqueiro e, num chute giratório, catapultou a bola. O projétil cortou o espaço, envolto em chamas negras, chingando ossos e lanças. Os esqueletos tombaram em cascata: um, dois, três… até o décimo, caindo em silêncio sepulcral, fragmentos espalhando-se em nuvens cinzentas.
Enquanto isso, sob o sol escaldante da rodoviária, Luka corria como um clarão dourado entre bancos de passageiros aterrorizados. Um esqueleto ergueu a lança contra uma senhora que erguia o neto do chão trincado. Sem hesitar, Luka estendeu a mão — do punho explodiu uma lâmina de luz amarela, atravessando o peito oco do monstro. O impacto o arremessou centrimétricos metros longe, a lança voou pelos ares. Ela girou em equilíbrio perfeito, num chute rodopiado que levou outro crânio para o alto, e encaixou um direto no terceiro que surgia rastejando sob a cobertura. Cada golpe desencadeava estilhaços de energia — fogos de artifício em câmera lenta.
Quando um terceiro esqueleto escalou o teto da bilheteria, Luka uniu ambas as mãos e moldou uma esfera incandescente. Num arco majestoso, lançou-a contra o telhado; o estouro fez o concreto desabar em chuva de detritos, iluminando o pátio como um sol eminente.
A explosão de poeira e entulho mal se dissipou, e Luka já corria em direção a uma van tombada, abrindo a porta lateral com um puxão certeiro. Ela ajudou o motorista a escapar e, sem perder um segundo, viu três esqueletos cercarem um grupo de estudantes. Num salto mortal para trás, aterrissou com precisão e desferiu um uppercut duplo que lançou dois oponentes ao céu. O terceiro tentou fugir, mas uma rajada concentrada de energia dourada o estilhaçou em pleno ar, as costelas voando em fragmentos cintilantes antes de se desfazer num clarão.
Quando a última fumaça se esvaiu, Junin irrompeu por um vão na cerca da quadra, o peito arfando, mas o sorriso bombardeando confiança pela viseira. Ela levantou o punho enluvarado num gesto de vitória, e correu para encontrá-lo. Unidos no centro do pátio, encontraram-se em sintonia perfeita: a bola trincada de Junin repousava ao lado, e a mão de Luka pousou no ombro dele, quente e firme.
— Você detonou lá dentro — ela exalou, o tom aliviado e admirado.
— E você salvou metade da cidade — ele rebateu, levantando o punho num brado de coragem.
Por um instante, nada mais existiu além da poeira contemplando sirenes distantes e o eco suave da energia que ainda pulsava ao redor.
— Prontos para o próximo setor? — perguntou Luka, o canto da viseira ergueu-se num meio-sorriso.
— Sempre — Junin respondeu, tocando o capacete no cumprimento.
E com isso, lado a lado, os dois Rangers se lançaram novamente ao combate, armaduras cintilando com o fogo vigoroso de cinco corações unidos.
Perto do centro da cidade, onde as barracas de comida se alinhavam como um carnaval de aromas — espetinhos de carne, pastel quentinho, acarajé fumegante — e lojinhas vendiam de artesanato a eletrônicos piratas, João Gabriel avançava com a determinação de quem não teme o nada. Seu morpher azul ainda pulsava no peito, iluminando os estilhaços de ossos espalhados pelo chão.
— Fiquem atrás de mim — gritou para um grupinho de vendedores e transeuntes amedrontados, empurrando dois esqueletos que surgiram atrás de uma banca de frutas. Em resposta, ele desferiu um cruzado de direita em um crânio oco: PAF! O esqueleto voou para cima das caixas de banana, espalhando cacho e pó de frutas. Sem perder o ímpeto, João girou o corpo, ergueu os cotovelos e soltou um uppercut certeiro em outro que se aproximava pela lateral. O impacto fez o inimigo cambalear e cair de costas, estilhaçando-se em fragmentos cinzentos.
Ele se adianta entre as bancas tombadas, ajudando uma senhora a levantar o neto que chorava abraçado à calça jeans dela.
— Está tudo bem agora, tá tudo bem — ele sorriu por dentro da viseira antes de notar que um bando de esqueletos se agrupava na esquina, lanças erguidas.
Sem hesitar, João sacou uma pistola curta — um artefato tecnológico que se encaixava perfeitamente na luva — e abriu fogo com precisão cirúrgica. TRAC! TRAC! Dois tiros certeiros no peito oco de cada soldado ósseo, que ruíram sob uma nuvem de pó cinzento.
Mas outros quatro avançavam contra ele de todos os lados. Instalou o pé no chão, disparou mais uma rajada e, num movimento de ginga, saltou para a direita. No meio do truque, executou um rolamento pra trás e um mortal, caindo de pé atrás de um carrinho de mão abandonado ali, empregado na construção de uma nova loja de fast-food.
— Hoje não, desgraçados! — grunhiu, puxando o carrinho pela alça e girando-o como se fosse um escudo.
Os esqueletos atacaram em uníssono — lanças rasgando o ar — e João, com um impulso digno de um atleta olímpico, empurrou o carrinho para frente. As rodas chirriaram, cravaram-se nos ossos secos e levantaram os monstrengos do chão como se fossem bonecos. Ele empurrou de volta com toda a força e, num golpe cômico, fez o carrinho girar em 180 graus, batendo-os um contra o outro: CRACK! Dois esqueletos se chocaram, derrubando-se em um tombo exagerado, braços e pernas alçadas ao céu.
— Quem disse que eu não sou engenheiro? — João gargalhou, girando o carrinho de novo para acertar outros dois que vinham em sua direção. O veículo ficou desgovernado, derrapou na calçada e acertou outro par de esqueletos como um flipper vivo, lançando-os de volta para a ruína de uma banca de sapatos.
Enquanto o último esqueleto tentava se recompor, João saltou para o topo do carrinho, cravou os pés nas laterais enferrujadas e ergueu a arma.
— Fogo, fogo! — gritou, disparando uma última vez, fazendo o monstro ruir em fragmentos como vidro quebrado.
Quando a fumaça dos disparos baixou, João desceu do carrinho e olhou para o centro de lojas agora devastado: barracas espalhadas, frutas pisoteadas, algumas pessoas aplaudindo timidamente o herói improvável. Ele guardou a pistola, ajeitou o morpher e, com um sorriso cansado mas confiante, falou em voz alta:
— Está limpo por aqui. Próximo setor?
E, sem esperar resposta, ele já se preparava para correr — as batidas do coração ressoando como tambores de guerra em seu peito azul.
A praça central, antes repleta de quiosques floridos e bancos de madeira, agora era um campo de batalha: barracas quebradas, frutas esmagadas e estilhaços de cerâmica espalhados sob o céu encoberto pela fumaça das chamas. No meio daquele caos, Beka ergueu-se como um vendaval rosa-cintilante. Seu traje reluzia sob o brilho trêmulo das fagulhas; cada movimento criava um rastro de luz que lembrava as estrelas cadentes de uma galáxia distante.
Ela avançou num giro elegante, apoiando-se na lateral de um banquinho tombado para ganhar impulso. Num salto acrobático digno de ginasta, desenhou um mortal triplo antes de aterrissar com as pernas em posição firme de combate. À sua volta, três esqueletos vacilaram com a força do impacto, mas ainda se erguiam, lanças erguidas. Beka revidou com uma sequência brutal: um chute lateral que quebrou o fêmur de um deles, seguido de um cotovelo voador que esmagou a mandíbula de outro, e um gancho de esquerda que pulverizou a clavícula do terceiro contra uma coluna de concreto. CRAC, CRUM, POW — o som ressoava como tambores de guerra.
Não havia tempo para hesitar. Ela sacou sua pistola rosa do coldre embutido na coxa e apertou o gatilho em ritmo cadenciado. TRAC! TRAC! TRAC! Três tiros certeiros perfuraram corpus oco de três esqueletos alinhados à sua frente, fazendo-os ruir de costas num estrondo seco. Quando ergueu o olhar, descobriu que mais cinco surgiam das fendas do chão, lanças brilhando sob a luz mortiça das tochas urbanas. Num grito de raiva e exaustão, Beka abriu os braços, a voz ecoando pela praça:
— Que merda é essa?! Essas porras nunca acabam! Eu quero matar todos!!
Suas palavras ressoaram como um trovão. Então ela respirou fundo, fechou os olhos por um instante e ergueu a mão direita em cumprimento firme. De sua palma surgiu uma luz rosa intensa, pulsando em vibrações harmônicas. Os arquejos de energia formaram-se num arco perfeito, moldando-se em uma arqui-flecha etérea, cravejada de símbolos antigos que cintilavam em tons de fúcsia e magenta.
Quando Beka abriu os olhos, ela agarrou o cabo luminoso com ambas as mãos e, em um movimento de arqueira lendária, puxou a “corda” invisível até o limite. A flecha tremeluziu por um instante, dividiu-se em milhares de fragmentos e, numa chuva de luz, disparou em direção aos esqueletos remanescentes. Cada fragmento era um feixe cortante, e ao tocar o corpo oco de cada um, explodiu em estilhaços brilhantes, como fogos de artifício em câmera lenta — BOOM, KRA-BOOM, PHSSSH. Em questão de segundos, a horda óssea foi reduzida a pó cintilante que dançou ao vento antes de desaparecer.
Quando a última fagulha se esvaiu, Beka baixou a mão e a arqui-flecha retornou ao nada, deixando-a sozinha no centro da praça silenciosa. Ela ofegava, o vestido rosa sujo de cinzas, e ergueu a pistola. Seu olhar era de pura determinação.
Beka permaneceu imóvel por um instante, o coração ainda pulsando em ritmo acelerado. O pó cintilante do esqueleto que explodira há segundos flutuava em torno dela, beijando o vento como cinzas de uma estrela cadente. Ela guardou a pistola com cuidado e limpou o cano nos dedos, pronta para buscar os companheiros… mas então um estrondo cortou o silêncio.
Lá ao longe, no horizonte da praça central, onde as chamas ainda lamuriavam prédios e carros em chamas se contorciam como feras enfurecidas, Beka viu a tia de explosões — golpes de luz vermelha e negra disparando ao acaso, estourando vitrines e sacudindo o chão. Ela reconheceu de imediato o estilo: era Max lutando contra uma horda de esqueletos obcecados por derrotá-lo.
Sem pensar duas vezes, Beka deu um passo à frente. Seu corpo pulsou com a energia rosa remanescente, como se o espírito do Pterodáctilo lhe sussurrasse coragem. Num impulso de pura determinação, ela disparou em direção ao epicentro da destruição, correndo por entre barracas reviradas e carros incendiados. A cada salto sobre escombros, sua armadura brilhava como um farol, iluminando o caminho.
Sob a ponte que margeava o rio da cidade — a mesma via que levava à praia local —, a água escura refletia os contornos tortuosos dos esqueletos que surgiam das margens. Max avançava por entre rochas submersas, cada passo cortando a superfície como lâminas silenciosas. A armadura vermelha reluzia sob o luar; o Tiranossauro dentro dele rugia em prontidão.
Dois esqueletos ergueram lanças afiadas e caminharam sobre a água como se fosse terra firme. Max os recebeu com um gancho de direita certeiro, fazendo um estalo metálico ecoar pela ponte. Enquanto o primeiro se despedaçava, ele mergulhou em rolamento sob o segundo e se levantou ágil, desferindo um chute giratório que lançou o crânio oculto contra a pedra da margem. O corpo oco estremeceu e se desfez em pó prateado, espalhando-se em pequenos redemoinhos.
Ele saiu do rio — a água escorrendo no cabo de seu sabre imaginário — e pisou firme na terra. Outros três esqueletos surgiram, avançando em formação. Max bloqueou um golpe de espada óssea com o antebraço blindado, rebateu com um cotovelo voador e encaixou um direto de punho em um segundo, fazendo-o voar de costas contra a parede de concreto da ponte. O terceiro tentou surpreendê-lo por trás, mas Max flexionou o corpo para a frente, aplicou uma rasteira que fez o inimigo estatelar no chão e, antes que ele se levantasse, desferiu um cruzado de esquerda que o encheu de pó.
Então, um estalido distinto: sob a sombra da ponte, ele percebeu alguém encolhida atrás de um pilar rachado. Era uma jovem de cabelos negros e longos, óculos escuros refletindo a luz da lua. Sua pele era branca como a calçada, e ela vestia um uniforme militar claro — camisa azul-marinha, saia longa e um chapéu no mesmo tom —. Os ombros dela tremiam de medo.
Mais esqueletos surgiram pela água, avançando em direção à moça. Sem hesitar, Max correra até um esqueleto ergueu a lança contra a garota. Num movimento instintivo, ele se jogou por cima dela, agarrando-a pela cintura e rolando para o lado — o projétil de concreto de um pedaço de ponte desabou junto deles. Uma enorme laje caiu a poucos centímetros de onde a jovem estivera.
Ela fechou os olhos, o coração martelando no peito, e então ouviu Max ao seu lado, a voz suave, quase um sussurro caloroso:
— Está tudo bem. — Ele passou a mão no cabelo dela, limpando um fiapo de pó. — Não precisa chorar.
Quando ela abriu os olhos, encharcados de alívio e surpresa, Max ergueu-se, segurando-a com cuidado e apoiando-a contra o pilar.
— Rápido, você precisa se esconder. — Ele envolveu seu braço em volta dela, ficando entre a jovem e o enxame de esqueletos que agora se aproximava em meio ao rio. — Eu cuido deles.
Ela tentou protestar, mas Max já tinha girado o punho, sentindo a energia rubra fluir. Num impulso, pegou um outro pedaço de pedra caído, sacudiu-o como um martelo e avançou. Com um grito de guerra, desferiu um golpe que estilhaçou um esqueleto ao meio, armado com lanças fincadas no assoalho raso do rio.
— Garota, fuja daqui! — ele gritou, virando-se para ela, os olhos ardendo com a luz de um guerreiro disposto a tudo.
Ela assentiu, o uniforme tremendo, e desceu correndo em direção a uma abertura entre as rochas, olhando para trás apenas uma vez enquanto passava.
Max voltou-se para a batalha, erguendo os punhos e bradando contra a noite:
— Venham todos! Eu não paro!
E ali, sob a ponte, o rugido guerreiro de Max ecoou, ressoando com o batimento nervoso do coração daquela garota que, escondida entre as sombras, ouvia o som de seu salvador lutar — e mal podia esperar para vê-lo de novo.
Max sentiu o solo tremer sob seus pés enquanto mais esqueletos emergiam das águas sombrias do rio, suas lanternas vermelhas brilhando como olhos famintos. Um rugido feroz irrompeu de dentro de seu peito — um brado ancestral que ecoou pelas margens. Num clarão intenso, sua armadura vermelha se cobriu de luz flamejante, engolfando aquele ponto do rio com chamas vivas.
No instante seguinte, uma espada de lâmina curva e vermelha materializou-se em sua mão direita, a bainha cravejada com a figura de um dragão escarlate que parecia ganhar vida, suas escamas cintilando. Max ergueu a arma, o cabo engastado em rubis, e soltou um novo grunhido:
— AHHH!
Seus pés tocaram a água com força, e ele avançou num borrão rubro. A velocidade era tamanha que tudo o que via se reduzia a rastros vermelhos: a espada riscando o ar e o concreto inundado. No primeiro esqueleto, ele desferiu um corte diagonal baixo, abrindo um sulco incandescente na perna de osso oco. Antes que a criatura pudesse sequer grunhir, Max girou o corpo, elevou a lâmina e aplicou um golpe pancada que estilhaçou o crânio em fragmentos incandescentes.
— AHH! — bradou ele, enquanto as partículas vermelhas da lâmina se espalhavam em faíscas.
Sem hesitar, ele se lançou contra o próximo. Num movimento contínuo, executou um flurry de golpes — estocadas curtas no esterno do segundo esqueleto, seguida de um corte lateral que rompeu a coluna; então, um uppercut de espada, que elevou o tórax oco como um projétil. Cada impacto reluzia em chamas, e o som seco de ossos rachando misturava-se ao eco estrondoso de sua lâmina contra o concreto.
Atrás dele, os esqueletos restantes avançavam em número, mas Max não dava trégua: num perfeito passo de espada, ele recuou, girou 360 graus e converteu o ímpeto em um golpe giratório, arrastando todos aqueles que se aproximavam para um turbilhão de luz vermelha. Línguas de chama lamberam os fragmentos ósseos, consumindo-os lentamente até reduzí-los a cinzas fumegantes.
Depois do último golpe, a espada cortou o ar e fincou-se no chão — uma cratera circular se abriu onde estava sua lâmina. Max ergueu o peito, arfante, os olhos brilhando por trás do visor:
— RAUWRR!
O rugido reverberou como um trovão. Foi quando o solo começou a trincar em torno da cratera, recebendo um padrão de runas que se acenderam em roxo profundo. As rachaduras se alinharam formando um pentagrama incandescente.
Delas, ergueu-se uma figura envolta em sombras: Lara Repulsa. Seu sorriso era frio como um eclipse, e, ao se erguer por completo, sua túnica laranja e azul escura cintilou sob a lua pálida. A coroa pontiaguda reluziu; o cajado com caveira apareceu magicamente em sua mão esquerda.
— Ora, ora… — sua voz deslizou como vidro quebrado. — O que temos aqui? Parece que é de novo você, Ranger Vermelho. Quanto tempo!
Max ainda envolto na aura rubra não hesitou: levantou a espada em um porte de ataque, o punho firme e pronto para ceifar aquela vida malévola.
— Responda-me! — vociferou, avançando num passo de combate, a lâmina apontada direto para o coração encantado dela.
Mas, no instante em que investiu, a espada pareceu atravessar um escudo invisível: um campo de força roxo e translúcido evaporou o impacto como água contra a pedra. Max tentou recuar, mas sentiu o poder mágico de Lara envolvê-lo, como correntes de névoa roxa.
— Ingênuo… — ela riu, o som reverberando com ironia fria. — Meu escudo é moldado pela essência de mil tempestades cósmicas. Essa sua lâmina? Tão frágil quanto os ossos que você acaba de destruir.
Max apertou o punho na empunhadura, os dedos cerrados em torno do punho cravejado de rubis. A aura vermelha cintilou com mais intensidade. Ele respirou fundo, o visor refletindo o brilho do pentagrama. Então, num grunhido feroz, preparou um contra-ataque.
Mas Lara Repulsa levantou o cajado, invocou faíscas púrpura que se contorceram no ar, e disparou um raio cósmico que ricocheteou na lâmina de Max, lançando-o para trás com violência contra um trecho da ponte.
“AHHHHH!” Max liberou um grunhido de fúria quando a aura vermelha à sua volta explodiu em centelhas vivas. A espada em sua mão latejava como se quisesse saltar do cabo e devorar tudo à frente. Erguendo-se do chão rachado, ele voltou a investir contra Lara Repulsa, o aço kosteando o ar como um cometa carregado de justiça. Cada golpe que desferia — estocadas, cortes em diagonal, varreduras — encontrava apenas o escudo roxo cintilante que a feiticeira mantinha erguido, anulando sua fúria como um muro impenetrável.
Lara, por sua vez, contra-atacava com uma precisão cruel: cada vez que Max recuava para ganhar fôlego, ela erguia o cajado e conjurava raios púrpura que rachavam o concreto ao redor, estilhaçando pedaços da ponte em ruínas. A cada descarga, o ranger vermelho era lançado para trás, sentindo o baque do impacto perfurar sua armadura e reverberar pelo peito. As bordas da ponte começaram a ceder sob o peso daquela força ancestral em choque — um pedaço de concreto se despregou, caindo no rio agitado. Max aproveitou o momento, correu com a espada erguida e disparou um golpe de lateral que fez estalar o escudo arcanjo… mas o feitiço sustentava-se firme, repelindo-o.
Num impulso, Max girou em torno de si mesmo, trazendo a lâmina para cima num corte ascendente. Lara ergueu o cajado e trovejou:
— Só isso? — ela zombou, antes de disparar uma corrente de energia em seu abdômen.
O golpe o atingiu em cheio, lançando-o para o lado, atravessando o vão da ponte e colidindo contra o solo num estrondo que abriu uma cratera funda. Ele rolou pelo concreto quebrado, sentindo o gosto metálico do sangue subir à garganta. Quando tentava se levantar, Lara já se preparava para o golpe fatal: o cajado começou a brilhar com runas roxas, o ar ao redor vibrava de poder — e Max soube que, se não parasse Lara naquele segundo, seria o fim.
Mas então ele sentiu, bem atrás das costas, um choque de flechas cruzando o escudo místico dela. Um grunhido de dor escapou dos lábios de Lara quando as pontas luminosas perfuraram a barreira divina, fazendo-a baixar o cajado por um breve segundo. Max aproveitou, esforçando-se para erguer o corpo ensanguentado, a espada trepidando nas mãos.
Quando abriu os olhos, viu Beka parada sobre uma laje prestes a desabar, segurando o arco rosa com firmeza e rodeada por uma aura cintilante. Cinco flechas etéreas brilhavam cravadas no escudo roxo, cada ponta marcada pelos símbolos ancestrais que ela invocara. Lara recuou, encarando a prima de Junin com um desprezo enraivecido:
— Você ousa me desafiar? — rosnou.
A ponte inteira estremeceu sob o peso da magia, mas Beka manteve a postura, o peito erguido, a luz rosa envolvendo-a como um escudo de determinação. Max, apoiado em um joelho, ergueu a espada e cravou a lâmina na fenda do solo:
— Agora vai! — gritou, reunindo as últimas forças naquele chalumeau rubro.
E no instante preciso em que Lara Repulsa ergueu as mãos para recompor o campo de força… Max avançou num salto, Beka disparou outra sequência de flechas cruzadas, e a ponte se transformou em palco de uma investida final. A lâmina brilhou como o sol poente, as flechas estouraram em faíscas de fúria rosa — e a feiticeira, enfim, viu seu escudo falhar.
O impacto conjunto sacudiu o mundo ao redor, arrancando o eco de suas vozes e deixando apenas o estrondo retumbante do metal e da magia colidindo. Quando a luz diminuiu, os três ali — o Ranger Vermelho, a Arqueira Rosa e o fragmento de ponte ainda pulsando sob seus pés — sabiam que, juntos, haviam dado o primeiro golpe decisivo rumo à salvação da Terra.
Os cinco tinham uma força recém-descoberta correndo por suas veias, mas, naquele momento, a ponte em ruínas se tornou o palco da verdadeira prova de fogo para Max e Beka. Envoltos por suas luzes respectivamente vermelha e rosa, eles se erguiam como duas chamas vivas numa noite tempestuosa.
Beka, o coração pulsando com o ritmo de um tambor de guerra, ergueu o arco com a confiança de uma arqueira lendária. Cada músculo do braço se definia sob o uniforme rosa, enquanto ela desenhava as flechas etéreas rastejando pela corda de energia. Então, num gesto fluido, ela soltou uma sequência de cinco projéteis cintilantes. As flechas cortaram o ar com um zumbido agudo, tamanha era a velocidade, deixando rastros cor-de-rosa que rivalizavam com os fogos de artifício. Cada ponta era guiada pelo instinto ancestral, buscando a brecha no escudo roxo de Lara.
Ao lado dela, Max cerrou os dentes, o punho tremendo em torno do cabo da espada rubra. Seus passos retumbaram no concreto instável, levantando pequenos estilhaços que dançavam no ar. Num grito que rasgou o silêncio da noite — “VOU TE MATAR!” — ele investiu como um cometa furioso, a lâmina traçando um arco violento em sua trajetória. A espada colidiu contra o escudo místico de Lara com um estrondo metálico, faiscando em centelhas vermelhas.
Mesmo cercada pelas chamas das investidas simultâneas, Lara Repulsa permaneceu impassível. Seus olhos, profundos e severos, estreitaram-se. Ela rangeu os dentes com tanta força que até pareceu estalar sua coroa. Sua voz saiu em um sussurro carregado de determinação:
— Preciso acabar com isso…
Ela fechou os olhos e ergueu o cajado. O ar em volta dela vibrou, densificando-se como um líquido violáceo. O escudo roxo, antes translúcido, ganhou corpo e forma, pulsando em ondas de energia concentrada. Em um movimento tão repentino que feriu a própria realidade, o campo arcanjo estourou para fora, como se Lara quisesse empurrar o mundo inteiro contra seus oponentes.
As investidas de Max e Beka foram interceptadas por uma barreira de força brutal. Max sentiu o impacto atravessar seus ossos, como se um punho invencível o golpeasse de volta. Ele voou para trás, atravessando pedaços soltos de concreto enquanto a lâmina escapava de sua mão e caía, cravando-se na pedra. Beka, disparando outra flecha, teve seu arco arrancado dos braços pelo retrocesso, a aura rosa rasgando-se em fragmentos de luz. Ele foi lançada de volta com violência, o ponto de aterrissagem a fazendo rolar várias vezes antes de parar, o rosto colado ao pó e ao lixo.
Poeira e fragmentos caíam do pentagrama que circundava Lara. A feiticeira abriu os olhos lentamente, o sorriso cruel pintando seus lábios. Enquanto o poder arremessava seus inimigos para trás, ela sussurrou, quase com ternura maléfica:
— Vocês não passariam nem no teste de um esqueleto...
Os dois caídos, com o corpo latejando de dor, olharam um para o outro. Mesmo ensanguentados e desnorteados, viram a determinação no rosto do outro. Max estalou a língua, num som de frustração, sentindo a armadura quente de sangue sob a luz tremeluzente. Beka abriu um olho, enxugou a lágrima de poeira e disparou um olhar feroz para Lara. A luta estava longe de acabar — e, apesar do golpe brutal, cada fibra de suas almas dizia que ainda havia uma chance.
No silêncio que seguiu o estampido da magia repelida, só se ouviam as gotas de chuva fina que começaram a cair, acompanhando o ritmo cadenciado de um coração que não queria desistir. Max ergueu o punho em direção ao morpher no peito, sentindo o pulsar do poder ancestral. Beka, por sua vez, ergueu o arco partido como uma bandeira de resistência.
Eles se levantaram ao mesmo tempo, cambaleando, mas o olhar em seus capacetes não mostrava desistência. Lara ergueu o cajado, pronta para disparar outro feitiço, quando um clarão de luz amarela explodiu ao redor de Max — sua armadura tremeluziu como um escudo mágico absorvendo a energia. Ele arqueou o corpo para frente, sentiu o impacto transformando-se em poder, e virou-se, estupefato, ao ver João Gabriel e Junin surgirem ao seu lado, cada um envolto em suas respectivas auras azul e preta. Logo atrás deles, Luka apareceu, brilhando em dourado, as garras prateadas emergindo de suas luvas como lâminas vivas.
Os cinco Rangers rugiram em uníssono, encarando Lara com fúria coletiva. Luka saiu na frente, saltando em um arco fluido, braços erguidos; suas garras dispararam num ataque implacável, riscando o escudo roxo de Lara com marcas que cintilaram como faíscas de prata. Junin e João, em perfeita sincronia, investiram pelos flancos: Junin desferiu um golpe de chute giratório com a perna esquerda, projetando-se como um tornado negro, enquanto João desabou sobre ela com um cruzado de direita, seu punho azul reverberando energia. Cada golpe se chocava contra o escudo de Lara, que começou a suar, as runas tremulando em tons de violeta que cediam à pressão dos ataques.
— Que merda… não posso aguentar ataques de vermes! — ela rugiu, a voz cheia de ódio e surpresa, recuando com o corpo arqueado. O escudo empezinhava, rachaduras surgiam, e para manter a barreira ela recuou o cajado, comprimindo a magia, mas já era tarde.
Luka avançou de novo, concentrando toda a energia do Tigre Dente-de-Sabre nas garras. Num golpe fulminante, rasgou o escudo na altura do braço de Lara, deixando duas marcas sangrentas como cicatrizes luminosas. O campo de força estourou em fragmentos de luz roxa que se dispersaram no ar. Sem o escudo para protegê-la, Lara não teve tempo de reagir: Junin e João se uniram num ataque devastador, dois socos poderosos cravados na lateral da cabeça dela, cada punho ecoando o impacto com um estrondo metálico que balançou o corpo da feiticeira.
Antes que ela caísse, Luka encaixou um chute giratório que a atingiu no peito e na cintura, as garras brilhando enquanto perfuravam o tecido do manto mágico. Lara soltou um último grito de dor, o eco varrendo a ponte em ruínas. Então, de súbito, ergueu as mãos e exalou uma aura violeta tão densa que os cinco foram arremessados para trás como bonecos, seus corpos colidindo contra os pilares rachados.
Eles rolavam pelo chão, sentindo a terra ceder sob suas costas. Quando o pó baixou, um pentagrama roxo gigantesco brilhava gravado na superfície do rio exposto pela ponte destruída. A névoa se ergueu e, no centro daquele círculo profano, Lara Repulsa cresceu, tornando-se uma figura colossal — sua túnica laranja agora uma onda imensa, o cajado uma coluna de terror. Ela ergueu a cabeça coroada, rindo como quem anuncia o fim dos sonhos:
— Agora a nossa brincadeira acabou! — o riso arrancou o eco dos escombros e reverberou pelo vale.
Naquele instante, os cinco Rangers, ensanguentados e exaustos, olharam um para o outro. Cada um sentiu a força ancestral pulsar em seus corações. Apesar da derrota momentânea, seus olhos brilharam com a esperança de que, unidos, ainda teriam forças para enfrentar aquela ameaça descomunal. E, enquanto Lara, gigante e imponente, preparava-se para o golpe final, a ponte toda vibrou com a tensão dos momentos que viriam a seguir.
A fumaça ainda se erguia do chão estilhaçado. O rugido de Lara Repulsa, agora em sua forma colossal, reverberava como trovões. Seus olhos brilhavam em púrpura intenso, e sua risada maligna parecia fazer o próprio ar vibrar. As nuvens acima se tornaram mais espessas, o céu inteiro parecia afundar em um eclipse eterno.
Os cinco Rangers, ainda ofegantes, estavam lado a lado. Max, envolto em sua aura vermelha flamejante, apertava com força o cabo de sua espada, a lâmina com o dragão na guarda reluzia em brasa. Beka, em rosa, segurava o arco com flechas teleguiadas brilhando em rosa choque. João, em azul, cerrava os punhos e o ar ao seu redor se tornava mais denso, como se fosse feito de água viva. Junin, envolto em sombras negras, mal se movia, mas sua presença parecia distorcer o ambiente. Luka, dourado e feroz, rosnava baixo com as garras prateadas estendidas, pronto para mais uma caçada.
— Vamos acabar com isso — grunhiu Max, a raiva transbordando dos olhos. — Juntos!
Os cinco se lançaram para o combate.
Max foi o primeiro. Um salto veloz impulsionado por energia pura. Ele girou no ar, sua espada deixando um rastro de fogo no céu, e desceu com uma estocada brutal mirando o peito da Lara gigante. Mas a bruxa ergueu o braço e com um só movimento do cajado bloqueou a lâmina, o impacto ecoou como um sino distorcido. Antes que Max pudesse recuar, Lara girou o cajado como um bastão e o acertou com um golpe lateral, atirando-o longe como um projétil humano. Ele bateu em uma rocha e afundou ali, gemendo.
— Max! — gritou Beka.
Ela então saltou para trás, puxando três flechas ao mesmo tempo e disparando contra os olhos de Lara. As flechas ziguezagueavam no ar, dançando entre faíscas cor-de-rosa, mas antes que pudessem atingir, Lara soprou uma rajada de energia púrpura da boca — como um dragão sombrio — e as flechas se desintegraram no ar.
Beka recuou e correu em círculos, disparando flechas por todos os lados, mas Lara abriu os braços e invocou uma barreira mágica em forma de flor de seis pétalas de energia roxa. As flechas ricochetearam sem nem causar um arranhão. Um gesto de dedo, e do chão surgiram espinhos negros que rastejaram como cobras, envolvê-la. Beka tentou pular, mas os espinhos agarraram sua perna e a puxaram com força, jogando-a no chão e prendendo-a como raízes demoníacas.
João e Junin atacaram juntos pela lateral. João canalizou sua energia, correndo ao redor da bruxa gigante como um redemoinho azul, criando uma corrente de água que girava ao redor dela. Junin apareceu das sombras e, com um pulo, cravou os punhos em um ponto fraco da armadura dela.
— Agora! — gritou João.
Ambos ativaram uma técnica combinada: “Golpe do Maremoto Sombrio”. Uma onda de energia azul-escura explodiu contra o peito de Lara.
Por um momento, pareceu que funcionaria.
Mas então, a bruxa abriu os olhos e sorriu. O cajado brilhou e uma explosão de energia púrpura varreu a dupla. Junin foi arremessado como uma sombra se dissipando no ar, colidindo contra uma árvore. João tentou manter o equilíbrio, mas Lara bateu com a palma aberta no ar — e uma parede invisível o acertou com força brutal, esmagando-o contra o chão com impacto seco.
Luka aproveitou o momento e avançou em alta velocidade. Ele pulava de pedra em pedra, girava no ar, suas garras deixavam rastros no céu como riscos dourados. Ele subiu na perna da bruxa, correndo por ela até o ombro, e pulou em direção ao rosto de Lara.
— Isso é pelo Max! — berrou.
Ele desferiu um ataque cruzado com as garras nas bochechas da inimiga, que sangrou pela primeira vez.
Mas Lara simplesmente cravou os olhos nele, murmurou uma palavra antiga, e Luka congelou no ar. A gravidade o puxou com o dobro da força. Ele caiu de costas com um baque seco e ficou imóvel por segundos.
Max emergiu das pedras, sangrando pela boca, a armadura vermelha danificada, mas os olhos ardendo em pura fúria. Ele correu, espada em mãos, e com um rugido flamejante partiu para cima dela.
— ISSO É PELO MEU TIME! — gritou.
Ele golpeou com tudo que tinha. Uma, duas, dez vezes. A espada era como uma tempestade rubra. Por fim, com um salto, cravou-a diretamente no cajado de Lara.
A energia explodiu. Um clarão cegante cobriu tudo.
Mas quando a poeira baixou… Lara estava de pé. O cajado ainda em mãos.
Max arfava, ajoelhado. A espada rachada em sua mão.
Lara olhou para todos eles — caídos, feridos, exaustos — e ergueu o cajado mais uma vez.
— Vocês são persistentes… mas no final, ainda são apenas vermes brincando de heróis.
Com um movimento largo, ela liberou uma onda de energia em círculo, que empurrou os cinco para longe, seus corpos deslizando como bonecos sem força. Um por um, os Rangers caíram no chão.
O campo de batalha estava coberto de poeira e destroços. A terra tremia com cada respiração da gigantesca Lara Repulsa. Ela permanecia ereta, sua presença como um eclipse ambulante, seus olhos púrpura brilhando como estrelas morrendo. O silêncio parecia pesar, como o prenúncio do fim.
Mas então, no meio dos escombros, algo se moveu.
Max foi o primeiro a se levantar. Seu corpo tremia, sua armadura vermelha trincada em vários pontos, mas seu olhar queimava como brasas vivas. Logo atrás dele, Beka se ergueu, arquejando, com o arco semiquebrado ainda em mãos. João se levantou com um joelho apoiado no chão, gotas de suor e sangue escorrendo pelo capacete azul. Junin, silencioso como a noite, emergiu das sombras, seus punhos cerrados com fúria silenciosa. Luka se ergueu por fim, as garras douradas arranhadas, mas ainda afiadas e prontas.
Eles se entreolharam. Nenhuma palavra foi dita, apenas a certeza compartilhada. Então, juntos, com a última força que ainda queimava em seus corpos, todos rugiram. Um som primal, selvagem, antigo. O rugido de cinco corações que se recusavam a cair.
A luz que envolvia cada um deles explodiu. Max foi envolto em um rubro flamejante que se ergueu como um incêndio. Beka brilhou em rosa como uma explosão de flores em primavera. João resplandeceu em azul profundo como o oceano no meio de uma tempestade. Junin se envolveu em um breu vivo, um brilho negro que parecia consumir a própria luz ao redor. Luka se incendiou em ouro puro, feroz como um sol prestes a nascer.
As auras deles cresceram, tomaram forma, se elevaram ao céu. O chão começou a tremer. O ar se aqueceu. Lara os encarou com olhos arregalados pela primeira vez.
— Chega! — rugiu ela, apontando o cajado. — Morraaaaaam!
Ela lançou uma sequência de raios roxos, mais rápidos que o som, mais destrutivos que qualquer ataque anterior. Mas, ao tocarem a aura dos cinco, os raios foram repelidos com violência. As faíscas colidiram com o solo, abrindo crateras, mas não conseguiram sequer tocar os Rangers.
Então eles falaram juntos.
Suas vozes eram fundidas em uníssono com outras vozes, antigas, ancestrais, como se espíritos dos primeiros defensores do mundo falassem com eles. Um eco místico, vibrante, poderoso.
— Emprestem sua força… venham, Megazords!!!!!!
A terra tremeu.
Do fundo do oceano, emergiu com uma explosão de ondas o Tyrannosaurus Dinozord, a água fervendo ao seu redor enquanto ele rugia com fúria ancestral e seus olhos vermelhos acendiam. Cada passo criava um maremoto em volta.
De um cânion cortando as montanhas, disparando entre rochas em cascata, saiu o Sabertooth Tiger Dinozord, correndo com velocidade felina, seus motores rugindo como trovões, olhos acesos em rosa vibrante.
Das profundezas do deserto, coberto de areia e relâmpagos, surgiu o Triceratops Dinozord, com suas três pontas reluzindo como lanças azuis e seus passos pesados sacudindo o solo.
Das sombras de uma floresta enevoada, surgiram as asas do Pterodactyl Dinozord, rasgando o céu com uma rajada sônica, seu corpo rosa flamejando enquanto cortava nuvens com velocidade e graça.
Por fim, rompendo as geleiras distantes, veio correndo o Mastodon Dinozord, com tromba levantada e olhos ardendo em luz negra, os passos ressoando como tambores de guerra.
Lara recuou meio passo. Pela primeira vez, seus lábios deixaram de sorrir.
Os cinco Rangers estenderam seus braços, suas energias fundidas às dos Zords. As auras subiram ao céu e foram absorvidas pelas máquinas. Um trovão caiu bem no centro do campo de batalha. Uma coluna de luz irrompeu, e uma voz ecoou pelos céus:
"Megaranger Force... União Final!"
Os Zords começaram a se unir.
O Tyrannosaurus se ergueu como a base central. O Triceratops e o Sabertooth correram e se fundiram nas pernas, seus cascos e rodas se encaixando perfeitamente. O Mastodon chegou rugindo, suas pernas se dobrando e formando os braços, enquanto sua cabeça se encaixava no peito. O Pterodactyl mergulhou dos céus, encaixando-se como o peitoral alado.
E então, a cabeça do Megazord desceu. Um brilho atravessou o céu. Os olhos do gigante acenderam como estrelas. Ele ergueu o punho, o chão tremeu.
Diante de Lara Repulsa, agora havia algo tão colossal quanto ela… mas muito mais nobre. Muito mais determinado. O Megazord estava completo.
Os cinco estavam no cockpit, juntos, cercados de luz, energias em sincronia perfeita. Max na liderança, Beka à sua esquerda, João à direita, Junin e Luka nos comandos laterais.
— Lara… — disse Max, sua voz ecoando — …acabou a brincadeira.
Mas mesmo diante dessa demonstração de poder, Lara gargalhou. Ela ergueu seu cajado e apontou para o Megazord.
— ENTÃO VENHAM! MOSTREM DO QUE SÃO FEITOS, SEUS INSETOOOS!
E assim, a guerra final recomeçava.
Agora com titãs em pé de igualdade, e um mundo inteiro assistindo, em silêncio, na beira do abismo.
A batalha dos escolhidos estava apenas começando.
A batalha final começava com o céu encoberto por nuvens negras e roxas, tempestades mágicas girando ao redor do campo de guerra. Relâmpagos cortavam o horizonte enquanto duas entidades colossais se encaravam: Lara Repulsa, transformada em uma feiticeira gigante de pura energia sombria, e o Megazord dos Power Rangers, de pé, firme como uma muralha viva de coragem e união.
Lara levantou os braços e gritou, sua voz ecoando como mil trovões:
— QUE OS ESPÍRITOS DAS TREVAS ME CONCEDAM TODA A MINHA FÚRIA!
No mesmo instante, símbolos arcanos em espiral surgiram no ar, brilhando em roxo profundo. Uma legião de meteoros mágicos desceu dos céus, caindo contra o Megazord em velocidade absurda. Os Rangers ergueram os braços do Megazord para se defender, e os impactos explodiram ao redor, fazendo a estrutura metálica ranger e a cabine tremer.
— Escudos de energia no máximo! — gritou Max, ajustando os controles.
Luka e Junin puxaram alavancas em sincronia, canalizando energia dourada e negra para reforçar as defesas. Ainda assim, alguns feitiços atravessaram, atingindo a lateral do Megazord e fazendo partes soltarem faíscas. Beka arregalou os olhos.
— Ela está vindo com tudo! A gente precisa atacar juntos agora!
Lara não parou. Seus olhos brilharam em forma de runas, e ela girou o cajado. No chão, dezenas de espinhos roxos surgiram e subiram, tentando perfurar o Megazord por baixo. Mas João foi rápido.
— Abaixem o centro de gravidade, pisem com tudo!
Com um comando, o Megazord pulou e esmagou os espinhos com um impacto sísmico que rachou o solo.
Lara, furiosa, abriu os braços e invocou duas serpentes etéreas feitas de magia negra que avançaram pelo ar, girando ao redor do Megazord como cobras famintas. Elas se enrolaram nos braços da máquina, tentando puxá-la para trás. O Megazord resistia, seus pés afundando no chão, seus sistemas de força sendo drenados.
Dentro da cabine, os Rangers lutavam com os controles que chiavam sob pressão.
— Não vamos ceder! — rugiu Max. — Liberem os propulsores laterais!
Os Rangers puxaram alavancas, e o Megazord ativou jatos nas costas e pernas, explodindo em fogo. As serpentes foram queimadas e dissipadas em fumaça roxa. O Megazord se libertou e correu, com passos pesados, na direção de Lara.
E então… o combate corpo a corpo começou.
O punho do Megazord acertou o rosto de Lara com força, jogando faíscas. Ela girou e lançou uma rajada de energia do cajado, acertando o torso da máquina e a empurrando para trás. O Megazord revidou com uma joelhada e um gancho de direita que quase fez a feiticeira tombar, mas Lara estalou os dedos — teletransportando-se em chamas roxas — e reapareceu nas costas do Megazord, atingindo-o com uma esfera mágica no ombro direito.
— Vocês acham… que são dignos?! — gritou Lara, invocando correntes mágicas que amarraram as pernas do Megazord.
As correntes começaram a puxar, afundando o Megazord lentamente no chão. Lara canalizava um último feitiço, um raio de destruição total, que crescia na ponta de seu cajado como uma supernova escura.
— ACABEM COM ELA! — gritou Max, apertando o botão vermelho no centro do painel.
Uma luz vermelha explodiu da cabine. O Megazord ergueu os braços para o céu.
— ESPADA DO PODER… VERSÃO GIGANTE!!!
Do céu, rompendo nuvens e trovões, caiu a espada flamejante. Gigantesca, reluzente, e empunhada pelo Megazord com ambas as mãos. A energia de Max se fundiu ao aço da lâmina, sua alma ardendo como um vulcão.
— RANGERS! JUNTOOOS!
Cada um canalizou sua energia para a lâmina. Rosa, azul, amarelo, preto e vermelho dançavam em espirais ao redor da espada. A lâmina se iluminou como um cometa prestes a atingir a Terra.
O Megazord ergueu a espada acima da cabeça. Lara terminou o feitiço, sua esfera de energia pronta para aniquilar tudo. Eles se moveram ao mesmo tempo.
O Megazord avançou. Lara lançou seu feitiço.
A lâmina cortou o feitiço no ar.
E então… o golpe final.
O Megazord desceu a espada com toda a força do universo. Um corte vertical.
Depois, girou com precisão absoluta e desferiu um corte horizontal.
As duas lâminas formaram um X perfeito, atravessando o corpo de Lara Repulsa em luz flamejante.
Lara gritou. Um grito que rasgou as montanhas, que estilhaçou o céu, que ecoou até o outro lado do mundo. Seu corpo brilhou com energia descontrolada. E então… explodiu.
Uma explosão gigantesca, em tons roxos, pretos e dourados, envolveu o campo. Uma nuvem em forma de flor se ergueu no céu, e por alguns segundos, tudo ficou em silêncio.
Quando a poeira baixou… o Megazord ainda estava de pé.
Se virou lentamente de costas para o campo devastado, com a espada gigante apoiada no ombro, sua silhueta recortada contra o céu limpo que surgia atrás. A luz do sol finalmente atravessava as nuvens, e a vitória era deles.
Dentro da cabine, os Rangers, ainda ofegantes pela batalha intensa, trocaram olhares e, num impulso primal de vitória, soltaram rugidos animalescos, como se seus espíritos se unissem em um só grito ancestral. Era a voz da superação, da união e da força absoluta.
O Megazord, respondendo à energia de seus pilotos, ergueu a Espada do Poder Gigante ao alto, fazendo-a brilhar intensamente sob o sol que surgia entre as nuvens. Em seguida, com um movimento imponente e cerimonial, o Megazord girou o corpo e desferiu um poderoso golpe no ar, cortando o vento com um estrondo.
A lâmina deixou um rastro brilhante no céu, como um sinal claro para todo o mundo: a justiça venceu.
Prévia:
A cena começa com a escola parcialmente destruída, em processo de reconstrução. Trabalhadores consertam paredes, pintam muros e recolhem entulhos enquanto o sol brilha no céu. Passamos rapidamente por corredores vazios, salas de aula com mesas tortas e até um quadro negro com rabiscos de planos de batalha — tudo indicando que a vida continua, mesmo depois da guerra.
Corta para o Megazord final, em uma pose triunfante, a espada brilhando em sua mão colossal. Tiago e Magnus vibram em seus cockpits, os olhos cheios de adrenalina e orgulho. Tiago sorri e fala, com um tom de brincadeira e admiração:
— Viu, porra! Eles mandam muito bem, hein?
A cena muda de ritmo, cortando para uma cozinha simples e barulhenta — é a lanchonete de Tiago e Magnus, um lugar cheio de bolos, salgados e um cheiro irresistível no ar. Os cinco protagonistas estão ali, todos um pouco nervosos, aceitando o emprego de meio período na lanchonete. Eles trocam olhares engraçados enquanto tentam manusear bandejas, fritar salgados e fazer bolos, alguns claramente desajeitados e derrubando ingredientes.
Tiago passa ao lado com uma bandeja cheia e brinca:
— Se vocês se saírem bem aqui, quem sabe vão ganhar um salário digno!
Corta para a próxima cena — um carro azul cortando uma estrada deserta. Beka está ao volante, com Junin e Max no banco de trás. Beka está rindo e provocando os dois:
— Eu disse que era pra confiar em mim! O melhor caminho, relaxa!
Junin revira os olhos:
— No meio do nada, Beka? É isso mesmo?
Max balança a cabeça, meio desconfiado.
De repente, o carro começa a fazer barulhos estranhos e para no meio do nada — o motor morre. Eles tentam ligar de novo, mas nada.
Corta para os três caminhando pelo deserto de Parnaíba, procurando ajuda ou sinal de celular, com sol escaldante e areia por todo lado. Beka e Junin discutem se o melhor é voltar ou continuar andando, enquanto Max observa o horizonte.
De repente, um rugido profundo e ameaçador ecoa pela distância. Dois olhos vermelhos brilhantes aparecem entre as sombras de uma duna. Todos param e olham assustados.
Na tela, surge o título:
“PERDIDOS NO MEIO DO NADA... E A FERA DE UM CHIFRE?”
Comentários
Postar um comentário